Entre Espada e Azagaia: Representações identitárias em Mia Couto

Resumo

Mia Couto é um autor cujos textos literários promovem intensas reflexões sobre os confrontos entre colonizadores e colonizados e as consequências do racismo enfrentado pelas comunidades negras que povoam seu país – Moçambique. O autor materializa em seus escritos os embates entre membros de grupos socialmente privilegiados e representantes de comunidades em situações de vulnerabilidade, problematizando assim pontos de aproximação e distanciamento entre crenças, pontos de vista e posições sociais de seus personagens. Nesses embates, tradição e modernidade são postas lado a lado, sendo por vezes visibilizados os conflitos e interlocuções que se estabelecem entre elas. Suas obras oportunizam, portanto, reflexões sobre os processos de identificação cultural que se desenvolveram ao longo da história de seu país. Diante disso, este estudo objetivou a análise da forma como buscas e inquietações identitárias são representadas nos discursos narrativos que perfazem os seguintes textos do autor: “O embondeiro que sonhava pássaros” e “Os mastros do Paralém”, publicados no livro Cada Homem é umaraça (1990), e “Sangue da avó, manchando a alcatifa”, editado em Cronicando (1993). Foram adotados, como principais referenciais teóricos, os conceitos de identidade – desenvolvido por Boaventura de Souza Santos em Pela mão de Alice (1997) e Stuart Hall nas obras A identidade cultural na pós-modernidade (2006) e Da diáspora: identidades e mediações culturais (2009) – e de transculturação – apresentado por Roland Walter em Afro-América (2009). A pesquisa empreendida foi caráter bibliográfico e conseguiu contribuir significativamente com as investigações acadêmicas voltadas para o diálogo entre arte literária e estudos culturais, atestando a pertinência da interlocução entre os constructos teóricos mobilizados e as textualidades ficcionais compostas pelo escritor moçambicano em foco.