Entre o histórico e o ficcional: O transescritural em Itamar Vieira Junior

Resumo

tamar Vieira Junior é um escritor afro-brasileiro cuja recente produção dialoga intensamente com a história do Brasil. Seus escritos ficcionais alicerçam-se no histórico para revisitarem experiências culturais vivenciadas em zonas de contato (PRATT, 1999) por comunidades situadas em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Rompem, portanto, com visões essencialistas a respeito do processo de formação do país, ao evidenciarem perspectivas sociais por muito tempo silenciadas em meio às relações de dominação e poder estabelecidas no país. Nesse contexto, suas narrativas refletem sobre trocas transculturais (RAMA, 2001) determinantes para a formação do povo brasileiro. Diante disso, este projeto objetiva a análise da forma como o autor compõe um discurso literário transescritural (WALTER, 2009), que desescreve e reescreve narrativas tidas como hegemônicas, para refletir sobre as lutas e conquistas de comunidades afrodescendentes, frequentemente invisibilizadas pelos textos que constituem a história considerada oficial. Para tanto, são adotados, como principais referenciais teóricos, os conceitos de atos de recordação (ASSMANN, 2011) e transescrita (WALTER, 2009), desenvolvidos por Aleida Assmann (2011) e Roland Walter (2009), respectivamente, para pensar a forma como a humanidade se relacionou com o mnemônico ao longo de sua trajetória. A pesquisa empreendida possui caráter bibliográfico, embasa-se na análise do romance Torto Arado (2019) e contribui com as investigações acadêmicas voltadas para o diálogo entre arte literária e estudos culturais. Sua execução, até o momento, permitiu constatar que Vieira Jr. recorre a uma tríade de narradoras protagonistas para evocar diferentes percepções a respeito da história do Brasil nos anos que sucedem a abolição da escravatura.