NÚCLEO DE EXTENSÃO EM AGROFLORESTA E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS

José Paulo da Silva Souza, Daniel de Sousa Macedo, Thenilson Barroso Santos, Luciana Souza de Oliveira, Rosival da Cunha Silva, Gustavo Jardim Ferraz Goyanna, Amancio Holanda de Souza, Almir Costa Amorim Junior, Moyses Avelino de Souza Filho

Resumo


Apesar de a agricultura familiar ser a principal fonte de abastecimento de alimentos do país, os agricultores ainda carecem de sistemas produtivos adequados à sua realidade produtiva, fundiária e ao tipo de mão de obra que utilizam. Visando contribuir com o fortalecimento da agricultura familiar através de modelos e práticas adequadas a essa forma de organização social, cultural, econômica e ambiental foi criado o Núcleo de Extensão em Agrofloresta e Práticas Agroecológicas - NEAPA, que funciona no Campus Petrolina Zona Rural – CPZR do IFSertãoPE e envolve três áreas de atuação: agrofloresta, unidade demonstrativa de fruticultura agroecológica e sistema PAIS. O objetivo deste projeto de extensão é a capacitação de estudantes e a troca de saberes com agricultores familiares em sistemas agroflorestais e práticas agroecológicas. Esses sistemas agroecológicos têm como princípios a diversificação produtiva e a eliminação do uso de substâncias com potencial de contaminação do homem e do ambiente. Assim, a diversificação de espécies agronômicas, manejadas de forma agroecológica constitui-se numa importante estratégia para a sustentabilidade da agricultura no Submédio do Vale do São Francisco. A agrofloresta foi implantada em 2018 no campo experimental do CPZR e reúne diversas espécies divididas entre Frutíferas: caju, manga, mamão, goiaba, pitaia, abacaxi, amora, romã, etc; Nativas da Caatinga: caraibeira, angico, umburana, catingueira, umbuzeiro, etc.; De ciclo curto: melancia, tomate
cereja, quiabo, batata doce, milho, amendoim, etc.Forrageiras: cunhã, jureminha, siratro, etc.Plantas de cobertura: crotalárias, feijão de porco, mucunas, etc.; f) Ornamentais: helicônias; Medicinais: hortelã, chambá, arruda, alecrim, etc. A seleção das espécies foi feita de forma coletiva com os estudantes, vários deles filhos de agricultores familiares. Além de levar em consideração o porte das plantas e a exigência delas em luz, observou-se as espécies mais cultivadas na região, a segurança e soberania alimentar dos agricultores, as espécies que se adequavam bem às condições edafoclimáticas locais e seu valor potencial de mercado para consumo in natura, processamento e abastecimento de pequenas agroindústrias locais. Considerou-se ainda o grau de dificuldade de manejo das espécies, levando em conta a mão-de-obra disponível e o grau de instrução do agricultor e a relação entre as espécies no sentido de cooperarem entre si e de melhorarem o solo e finalmente, buscou-se que essa unidade demonstrativa se torne um modelo possível de ser implementado na realidade local. Os tratos culturais são simples e consistem basicamente em podas e controle das plantas espontâneas. As técnicas de manejo utilizadas na grofloresta devem ser compatíveis com as práticas culturais da população local. É preciso considerar a sociobiodiversidade, que é um conceito que envolve a relação entre a diversidade biológica, os sistemas agrícolas tradicionais (agrobiodiversidade) e o uso e manejo desses recursos
respeitando o conhecimento e a cultura das populações tradicionais. A unidade demonstrativa de fruticultura agroecológica foi implementada no semestre de 2019.1, possui uma área de 0,1 hectares e as espécies frutíferas que a
compõem são abacaxi BRB Imperial e três espécies cítricas, laranja bahia, lima ácida tahiti clone CNPMF02 e tangerina murkote, todas enxertadas no porta-enxerto citrandarim índio. O sistema de irrigação utilizado é o gotejamento e o
espaçamento 3 x 2 m para os citros, sendo o abacaxi plantado entre eles. A unidade agroecológica no sistema PAIS foi implantada no semestre de 2018.2 e envolve animais (galinhas) e algumas espécies de ciclos variáveis, necessitando,
portanto, de planejamento dos tratos culturais e manejo e dessa forma possibilita as práticas de aprendizagem indispensáveis para os trabalhos de capacitação de estudantes e troca de saberes com agricultores familiares. A
condução do núcleo compreende as seguintes etapas: a) Manejo: condução técnica das unidades demonstrativas: plantio, irrigação, controle fitossanitário, nutrição das plantas e manejo animal. São preparados caldas e biofertilizantes
para serem utilizados nas culturas e o cultivo de “espécies de serviço” que são aquelas que proporcionam importantes benefícios às outras plantas num sistema agroecológico, como a produção de biomassa para cobertura de solo, ciclagem de nutrientes, abrigo de inimigos naturais e de insetos polinizadores, entre outras funções, para que o sistema seja sustentável. Dentre essas espécies citamos as gramíneas e leguminosas utilizadas como adubação verde, margaridão e girassol. Além disso, o NEAPA conta com seu banco de sementes crioulas e nativas para a utilização própria, troca e doação. b) Capacitação de estudantes: através das aulas práticas os estudantes são capacitados em manejo de SAFs e aplicação das técnicas agroecológicas no manejo das plantas e animais; c) Troca de saberes através de dias de campo e visitas tecnicas: durante esses eventos, que envolvem agricultores familiares e público interessado em sistemas agroflorestais e agroecologia, são tratados assuntos como manejo agroecológico do solo, nutrição vegetal, manejo cultural e fitossanitário. A condução das unidades demonstrativas que formam o NEAPA tem sido feita mediante tecnologias agroecológicas que prezam pelas boas práticas agrícolas e a preservação dos recursos ambientais, com vistas ao incremento da renda dos agricultores familiares. Parte da produção do núcleo tem sido direcionada para o abastecimento do refeitório e agroindústria do campus.As três unidades demonstrativas que formam o núcleo de extensão têm possibilitado a troca de saberes com agricultores familiares, treinamento de estudantes e integração entre profissionais da área. Trata-se de uma excelente forma de diversificação de cultivo para a agricultura familiar e uma oportunidade de os estudantes vivenciarem de forma prática os ensinamentos teóricos trabalhados em sala de aula, sendo de fato uma importante ferramenta de ensino-aprendizagem. Além disso, tem promovido a aproximação entre a academia e os agricultores familiares, o que resulta em um compartilhamento de saberes muito importante que é refletido na nova maneira de pensar a agricultura, que precisa ser sustentável e principalmente no tipo de profissional que está sendo formado no IF Sertão Pernambucano, comprometido com a forma responsável de produzir alimentos, com respeito ao meio ambiente.


Palavras-chave


Agroecologia; troca de saberes; Sistemas Agroflorestais.

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